Bem Bem Bom

A mensagem chegou meio de mansinho no início da tarde de domingo. Dizia: “Meu bem, penso em vc! E isso me faz um bem bem bom!” Pausa para pensar no momento que a soja cozinhava e parecia se rebelar na panela. Pausa para assimilar a franqueza do peito aberto de quem pensava.

Instantâneo como uma foto, vontade de pedir um abraço – agora -, um pequeno sorriso nos lábios e a certeza de que alguém especial que catava folhas no jardim pensava. Foi como receber um presente. Pausa para pensar e tentar avançar e dizer “eu também”.

Há quanto tempo não nos emocionamos com as pessoas? Mesmo aquelas queridas, do peito, amigas de fé, de anos. Quando acontece, dormimos com palavras e frases sem coragem para leva-las adiante. Mesmo encabulado e tímido, estar emocionado e dizer isso pode ser muito bom, mas pode levar a exaustão, sair da casca, tirar a camuflagem e ficar de ressaca dos próprios sentimentos. Mas vale a pena.

A tradução do pensador para os seus próprios pensamentos foi de uma verdade e sutileza há muito não percebida. Doce simpatia, gentileza, cortesia, carinho, alto astral foram algumas palavras usadas para traçar os 12 anos dessa convivência de “ois” e “olás”, até o estreito momento; perfeita tradução de bons sentimentos que “emocionam”.

Alguns encontros são sublimes e é preciso estar atento para perceber a sua chegada, mesmo que perdure por pouco tempo. Quem saberá? Não importa. O encontro num feliz momento é estar aberto para perceber que ele está acontecendo. Talvez a sobrevivência venha da verdade da sutil descoberta.

O domingo já indo embora e a soja abandonada garantia o lema de que nada pode funcionar sem emoção, mesmo quando tomamos um susto com a chegada dela. E assim, como quem catava as folhas e regava as flores, dias foram nutridos pelas simples ações de falar, trocar, apoiar, rir e seguir. Sem perceber, de forma quieta e silenciosa, este estreito momento também fazia um bem bem bom para o “eu também”.

Sem querer decifrar a esfinge, melhor é catar as folhas, separar as cascas, regar as flores e deixar pro tempo a sabedoria do tempo que perdura ou devora. Simples, como as palavras que comovem e emocionam.

 

Rio de Janeiro, março, 2008
Foto: Silvana Cardoso | Praça Geysa Bôscoli

 

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