Pense no que você faria se após uma viagem resolvesse trazer a cidade visitada para o seu pais. Pois é, uma família brasileira não só pensou mas resolveu trazer, de verdade, New Orleans para São Paulo. E assim, portando cartas de apoio das autoridades oficiais locais e após quatro anos de obras, há exatos 23 anos, nascia o Bourbon Street Club no bairro de Moema, casa de shows e restaurante com a cozinha típica da cidade americana e que foi inaugurada por ninguém menos que BB King.
Essa história me chegou aos ouvidos em 1996, quando conheci Edgard Radesca, o viajante do sonho, que trazia para o show da lenda BB King para o Metropolitan, que na época era a maior casa de espetáculos da América Latina – e que tinha uma equipe que era uma outra família, animada e divertida, mas essa é uma outra história. Voltando ao BB King, como eu fazia a comunicação da casa, segurei a responsabilidade de divulgar o show no Rio de Janeiro. A partir daí, minha parceria profissional e amizade com o Radesca me fizeram entrar na família Bourbon.
A família mais jazzística do país é ligada no 220 e queria que aquela beleza de música, surgida a partir do blues no início do século XX pelos trabalhadores negros norte-americanos, chegasse para todos gratuitamente. Assim, há 13 anos nasceu o primeiro Bourbon Street Festival, por onde já passaram nomes de peso do jazz mundial para shows gratuitos em São Paulo e em diversos outros festivais realizados em cidades como Paraty e Ilhabela.
Mês passado, no Bourbon Festival Paraty, enquanto eu e minha amiga-parceira Maria Inês, assessora da casa em São Paulo, corríamos de um lado para o outro se equilibrando nas ruas pé de moleque da cidade histórica, pensava o quanto de trabalho e alegria cabe nos festivais organizados pelo Bourbon. O quanto de raça, coragem e disposição se faz um festival de música, completamente gratuito, com atrações nacionais e internacionais espalhadas por suas ruas e praças, como na oitava edição do festival em Paraty e na segunda edição de Ilhabela.
Por muitas vezes queremos arrancar os cabelos pela necessidade de ter mais umas vinte pessoas trabalhando, mas tudo se resolve com a fórmula que impera nos trabalhos da equipe: sorriso, boa vontade e um “você pode esperar um pouquinho?”. Principalmente para a assessoria, que pede de tudo, desde a distância que o artista está para chegar a tempo da entrevista, até mesmo ter coragem de solicitar que o Radesca fale para a TV, em link ao vivo, na hora exata da cerimônia de abertura do festival.
Sei que não será diferente no festival Bourbon Folk e Blues Ilhabela, que chega à sua segunda edição neste final de semana, de 24 a 26 de junho. Sei também que o corre-corre será grande; que não vai faltar um cachorro de rua como mascote atrás do palco, misturado conosco e com os artistas; que vai ser difícil acompanhar o Herbert na função de MC, voando para anunciar atrações de um palco para o outro; que o Beto será visto de relâmpago em vários lugares ao mesmo tempo; que os rapazes da montagem e os roadies serão sempre esperados para as comemorações do final de cada noite; que a barriga da Amanda estará maior e que o bebê Felipe chegará em breve; que Inez sempre dará um jeito de resolver o nosso pedido de última hora; que Mafê estará de prancheta na mão esperando o momento que vamos liberar o artista que acabou o show; que devemos sair da frente do Pedro Garrido correndo no meio da rua entre um show e outro; que Regina estará alerta, positivo e operante na função de alimentar todos e distribuir as tão aguardadas camisetas; que Otto vai nos dar aquele suporte para os assuntos tecnológicos; que Murilo – o homem de confiança da grife Bourbon – estará recebendo a imprensa, os convidados e todos nós ao mesmo tempo, sem perder a elegância e a gentileza; que Radesca estará fotografando todos os shows, conversando e contando histórias nos intervalos.
Sei bem que no jovem festival de Ilhabela, além das atrações espalhadas pela ilha, terá a nossa Orleans Street Jazz Band juntando gente pelo meio da rua com sua música e alegria, sei que vamos fazer uma vaquinha para a bebida da festa que adentrará pela madrugada no último dia – regada a muita dança, abraços e fotos –, todos embalados ao som do DJ Crizz, que fecha o palco e continua na função de manter o festival vivo dentro de todos nós. E, nessa hora, penso que a vida poderia congelar neste momento de amor a arte.
Silvana Cardoso,
Assessora de imprensa do grupo Bourbon Street no Rio de Janeiro.
RJ, 20 de junho, 2016
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