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DIA DE COSME E DAMIÃO, DIA DE MUITAS LEMBRANÇAS

Dia de Cosme e Damião, que para os crédulos inclui o pequeno Doum, que de tão pequeno, quando se foi,  não deu tempo de aprender a falar.
Hoje fiz um agrado para as crianças, como faziam minha mãe e meu Tio Adilson.
Mamãe adorava ir na Casa do Biscoito para comprar caixas de doces para fazer os saquinhos. Nos seus últimos anos, já com pouca memória, eu e meu filho Diego íamos para lá distribuir os doces dentro dos saquinhos, pois se deixássemos com ela sozinha um ganharia só bananada e pirulito e outro suspiro e Maria-Mole.
Era divertido vê-la feliz fazendo aquela confusão para encher os pacotinhos com a foto dos santos estampada no papel. Depois, chamava as crianças do condomínio e passava a semana contando como foi a bagunça na sua janela, no apartamento de primeiro andar. Já o Tio tinha uma prateleira com um pequeno altar aceso com uma lâmpada tipo bolinha, colorida de abobora ou azul, mas sempre acesa, com um pratinho com doces e três copinhos pequeninos, que sempre tinha guaraná. O Tio trocava doces, balas e guaraná por todos os fins de semana de sua vida.
Mamãe e o Tio eram os irmãos mais novos, ele o caçula com diferença de quatro anos para ela. Mas quis o destino que eles tivessem juntos o Tifo. Ele criança, ela quase mocinha. Uma doença que matava, com uma febre que cozinhava o enfermo. Sobreviveram. Dizem que graças a fé de minha vó nas crianças da crença popular – São Cosme e São Damião.
Hoje lembrei deles e corri na rua para comprar uns doces. Liguei para a Tia Marlene (mulher do Tio) e descobri que ela havia feito o mesmo, correu na rua para arrumar o altarzinho dos santinhos.
Independente da nossa crença, carregamos a crença dos nossos e hoje me senti um pouco perto deles, que partiram quase juntos em 2015.
Achei que ficou bonitinho, coloquei uma rosinha. Agradeci, desejei parabéns e fiquei feliz com o ritual tão familiar.
Feliz dia de Cosme, Damião e Doum.

Pedro do Rio, 27 de setembro de 2020.
Foto que fiz da da homenagem, com doces e a velinha.

SAUDADE É O AMOR QUE FICA

Ando impregnada de saudades diversas. Ausências que se misturam com os aromas, os sabores e os cheiros de cada um, de cada coisa. E se aninham na saudade que foi me tomando todo o sentimentos de mãe, de sogra, de filha-sobrinha, de prima, de amiga, de madrinha, de vizinha, de fazer farra com as garotas do supermercado do bairro.
Mas ontem, e antes de ontem, as notícias, as preocupações com os meus de perto, os próximos, os não tão próximos, a cidade, o pais, ando doída dessa saudade do amor que fica, que me aperta o peito dizendo: vai passar, mesmo doendo, vai passar.
E hoje, Dia das Mães, que Vovó dizia ser todos os dias, me abraço às fotografias da última visita de Diego aqui em casa, em Pedro do Rio, o último jantar com DiegoCarol e os gatinhos, a feira de sábado com a TiaMãeMarlene e Deise, a minha conchinha. Meu afilhado e a briga para quem come mais batatas coradas no almoço, enquanto a comadre Susana briga para deixarmos “pro vovô”.
Saudades diversas de muitos amores que me habitam o peito e a alma, com o amor que fica dentro e fora de nós enquando esperamos por dias mais felizes para a humanidade. E rezo por isso todos os dias, por todos.
Mas Deus, que sempre me desafia, me brindou com um filho emprestado, que chegou esta semana com os desdobramentos da quarentena.
E enquanto a vida de uns está vazia, a minha rotina está de casa cheia de alegria e tatefas, com a chegada de Lucas e Aquiles – filho de 23 anos do meu marido Alfredo e seu idoso cão.
Peço licença aos que passam por aqui para falar com Dico, Carolzita e gatinhos, TiaMinha, DeiseConchinha, Dindi, Susanete, Pat, Mimi, Tatá, Alzer e Tintia, Bruno e Binalda, Andrea, APaula, Juju, Giloca, Sergio, Joaninha, Regina e João, Pat e Nuxa, Helen, a Renata que chegou agora com a força de quem segura na mão e aquece o meu coração, e, a todos, o meu mais afetuoso e apertado abraço de domingo.
Mas como saudade é o amor que fica, passo por aqui impregnada também desse amor que distribuo para todos vocês.
Feliz Dia das Mães!

Conexão Páscoa

Precisei arrumar a mala, fazer caber doces e cachaças. Mudas de plantas. Pensei que não daria conta de arrumar lugar para tudo, mas como não caberia tanto amor, misturado às minhas lembranças naquela bagagem de Páscoa.
Percebi ali, sentada no chão do quarto da prima Maria, que a conexão estava lá, que não havia se perdido – entre a nossa última Semana Santa na roça, no Sitio em Ponte do Balanço, em Santa Leopoldina, em 1978 e os nossos almoços e jantares desta Páscoa, em 2019.
Papai costumava visitar a única irmã que permaneceu no Espírito Santo. Tia Nair, o marido, Tio Orlando e os primos nos esperavam todos os anos  para comer a torta capixaba, tradição nas refeições de sexta, sábado, domingo, e enquanto durarem os estoques da iguaria. Mas papai nos deixou seis meses após aquela Páscoa de 1978 e nunca mais consegui retornar. Garota que precisou dar conta das ausências e talvez por honrar o luto da minha mãe, que jamais se recuperou daquele amor perdido num enfarto, quando ele tinha quarenta e seis e ela trinta e seis anos. 
Mas o tempo que passa é o tempo que cura, que dá a oportunidade de reconectar com o que temos de mais precioso: memória afetiva de boas lembranças – pessoas, lugares e comida. E enquanto as malas giravam na esteira do meu desembarque no Rio de Janeiro, pensei nesta connexio, palavra antiguinha que vem do latim, que ganhou novo significado na era digital.
Conexão: substantivo feminino, ligação, coesão, relação, ajuda. Palavra que representa ligação com a minha memória afetiva com eles, e com meu pai. Quando, com a ajuda deles, através deles, recupero as nossas memórias que constroem e resgatam a nossa relação: com Valter conversa, acolhimento, paizão de todos e o tipo físico; a molecagem e a lembrança do Wolgo (para mim o menino-Wolgo da minha lembrança), quando me mostrou o último presente do Tio, um caminhão de madeira que ganhou naquela Páscoa distante; Maria e sua generosidade em me cuidar, abraços de barriga, minha jardineira preferida. A nova, proveitosa e divertida conexão com os filhos dos primos, com Cinha, mulher do Wolgo e com Maria, mulher do Valter e, Zé Luiz, marido de Ana.
Com Ana, prima companheira daqueles feriados quando juntas, com os meninos Wolgo e Mazinho, íamos pular no riacho e debulhar milho para as galinhas.
Nesta Páscoa não faltou torta capixaba, piada, o humor, que marcam a nossa essência. Mas Ana, cozinheira de mão cheia, colocou à minha frente uma caixa com o doce que vovó fazia para levarmos. Paralisei. “Esperávamos ansiosos o Tio com as caixas de camisa com os doces da Dona Maria. Era o melhor da Páscoa”, me disse Ana. Lhe apertei nos braços e chorei. E eles eram o melhor da minha Páscoa.
Desembarquei com a saudade breve dos daqui, do Rio de Janeiro, do sítio em Pedro do Rio, precisava abraçá-los. Peguei minha mala cor de abóbora com o coração aquecido de amor e cuidados, com o desejo de manter a connexio com os que amo, sempre

Na foto, o CW morse telégrafo do meu pai, um homem da terra que me ensinou a manter a conexão. 

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E viver é essa aventura

Doa a quem doer, somente os amigos falam verdades – para o bem e para o mal. Analisando por este ponto, cheguei a conclusão da uma suspeita: tenho um novo amigo e o nome dele é João.
Dias desses, estávamos brincando, imaginávamos andar de bicicleta, quer dizer, ele dirigia a bicicleta elétrica parada, e eu agarrada em sua camiseta enquanto durou o passeio. Em um determinado momento João olhou firme para mim, bem de perto, e disse:
– Sil, você tem bigode!
– Como assim João. Eu?
– Sil, tô vendo aqui ó!, enquanto o dedinho apontava para minha boca eu me contorcia para não gargalhar.
– João, você descobriu o meu segredo. Eu tenho bigodes! Herdei do meu pai, que também tinha um muito mais bonito que o meu.
João colocou a mão na boca, arregalou os olhinhos e sorriu satisfeito com a descoberta.
Costumo ter diálogos divertidos e honestos com o meu novo amigo, lhe faço limonadas e ouço suas histórias com atenção.
Aqui no sítio a vida é compartilhada e quando Joana, mãe do João, vai ao mercado me passa um “zap” para saber se quero algo da rua. Também costumamos ir juntas para a piscina ou acontece um almoço compartilhado com todos, com Nuxa e Sergio. As vezes faço o lanche aqui em casa, como era o hábito antigamente aos domingos, para Diego e seus amigos. Até hoje quando encontro os rapazes já casados, fica a tentativa de reedição do lanche da Tia Sil. E sempre era, e sempre é, divertido construir estas histórias de vida.
Outro dia li uma reportagem do Nexo com o tema “Como a arquitetura urbana pode combater a solidão”, da Juliana Domingos de Lima. Nela, reproduzo um parágrafo sobre a arquiteta Grace Kim, que tem uma pesquisa onde afirma que a solução para a solidão nas cidades não está somente nos espaços públicos, mas na maneira de habitar e na criação de vizinhanças mais coesas. Ela defende o “cohousing”: trata-se de uma “vizinhança intencional”, na qual as pessoas se conhecem e cuidam umas das outras. A ideia é que cada pessoa ou família tenha sua casa, mas compartilhe espaços significativos para a vida cotidiana. Segundo as pesquisas de Kim, quando as pessoas comem juntas, naturalmente criam laços e planejam fazer outras atividades juntas, aumentando o nível de conexão social entre elas.
E cresci vendo vovó compartilhar comida. E como vovó, gosto das amizades, das gentilezas, das trocas, e ter por perto pessoas para a vida. Como a plaquinha da foto, presente da vizinha Helen Maria, – “pela sua escolha, por uma vida simples aqui” (nome também da revista que amo). Ah, e aqui trocamos livros como antigamente.
Quanto ao meu amigo João? Bem, ele me recebeu de braços abertos quando cheguei para morar no sítio e sempre me chama para brincar, além de ser muito franco, claro. João tem quatro anos, adora minha limonada azeda e, com a sua alegria de menino, costuma gritar do seu quintal: “Silll, estou indo aí, tá?”. E viver aqui é essa aventura.
Pedro do Rio, Petrópolis, RJ, 9 de feveiro de 2019.

Link para matéria Nexo:
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/12/15/Como-a-arquitetura-urbana-pode-combater-a-solid%C3%A3o?utm_source=meio&utm_medium=email

Para pais e filhos, para Diego e para minha mãe

Cadê o pai e a mãe que estavam aqui? Cadê o filho que estava aqui? E quando nos deparamos sem mãe pai ou sem filho a ficha cai, sentimos saudade imensa até mesmo do que já esquecemos ter vivido. Seja por uma guarda compartilhada um casamento uma doença ou morte, não importa, vai fazer uma falta danada – um ou outro – pais ou filhos.
Olhamos fotografias e lá está aquela criancinha no colo dos seus pais que nos faz resgatar a sensação das emoções vividas e na outra ponta das lembranças a imagem daquela criancinha no seu colo te leva às lágrimas de tanta emoção. E, assim, nos sentiremos sempre protegidos e protetores, para os dois lados.
Independente do tempo, do espaço físico, das diferenças: filhos serão sempre filhos e pais a referência do seu DNA. Mas um dia, de repente, o papel se inverte, seja pela velhice, por uma doença, pela necessidade de acolhimento de quem te deu a vida, seremos mais amorosos, deixaremos as diferenças de lado e amaremos nossos pais como eles nos amam, sem ressalvas, até quando não concordam continuam nossos pais e, com o pé fincado no chã dizem: “estou com você meu filho”.
Acordamos um dia e falamos: estou tão parecida com a minha mãe, com o meu pai. Isso pode ser péssimo, mas se temos boas lembranças no meio daquelas diferenças que achávamos que não sobreviveríamos a elas, o tempo se encarrega da gratidão pela vida gerada naquele ventre, a partir de dois seres que se gostaram, numa centelha de amor e gozo, para criar um novo ser: você, eu, seu filho, meu filho, sua mãe, minha mãe, seu pai, meu pai. Estão todos lá naquele documento oficial de nascimento. E enquanto habitarmos esta órbita, serão a nossa referência, que com o tempo vamos descobrindo em nós e neles – os nossos.
Mamãe era uma pessoa muito boa de coração, generosa com os amigos, mas tinha um temperamento considerado muito difícil. Com o tempo, o Alzheimer, a minha maturidade, encontramos a paz e o amor. Quando ela partiu me senti o filho do filme “Peixe Grande”, quando todos os personagens das histórias fantásticas do pai chegam para o velório. Aquele pai que não se ajustava com aquele filho foi, sim, uma pessoa e tanto. Mamãe também.
Hoje, como em muitos dias, acordei com imensa saudade do meu filho, que está alguns poucos quilómetros de distância de mim, no seu dia a dia que segue o rumo como pessoa adulta e responsável que muito me orgulho – com a vida dele a família dele o trabalho dele o cansaço dele os amigos dele. Um bom homem, de bom coração, calmo, de sábia sabedoria, que me ensina o amor de verdade todos os dias.
Sei que vou estar onde ele precisar e ele estará onde eu precisar também. Estamos unidos pelo amor, pelo elo daquelas mãos que se atavam para atravessar a rua e que aos poucos foi se soltando para andar sozinho e confiante, mas que jamais vai deixar de precisar de um colo, um ombro, um conselho, uma ajuda. Elo eterno ancestral e para todo o sempre de nossas existências.
Hoje, como todos os dias, acordei com o imenso desejo de continuar por aqui por mais alguns anos, ter a dádiva de ser uma velhinha fofa e de cabelinho lilás, ter as mãos seguras de Diego e Carol, minha nora querida, para atravessar uma rua e algumas estradas dessa vida que nos desafia todos os dias.
Acordei – também – com a belíssima canção do filho de Paula Lavigne nos meus ouvidos, “Todo homem precisa de uma mãe”, diz Zeca, em nome de todos os filhos – homens e mulheres – desse universo.

Foto eu, Diego e mamãe pelas lentes da querida Cristina Granato, em 1999 no Metropolitan, no show Quattro Estações da dupla Sandy & Junior.

Na segunda foto, Dico e Eu na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Tiradentes, MG, no 29 de março, feriado da Semana Santa deste ano de 2018. Sim, Diego foi comigo, Tia Marlene e Deise (autora da foto) “pagar’ uma promessa de vida muito importante para mim, e para a minha fé cristã.

Rio de Janeiro, 10 de maio de 2018.

Coragem e conquistas para ser desnecessária

Como assim, acabou? Pois é moça, acabou a família que você acreditou estar em sólidas bases de amor e confiança. Acabou a parceria moça, as conversas ao jantar, os passeios com os amigos e, assim, a certeza que também acabou a história de amor. Assim, um dia a vida estava fora do eixo, a partir da perda de sonhos em comum. Assim, um dia, sem emprego fixo, sem, sem, sem, sem um pai por perto para ajudar a criar e a educar um filho, sem o parceiro do sexo seguro e amoroso, do Natal e do Ano Novo em festivas comemorações de amor e paz.

A-ca-bou-se-o-que-era-do-ce-meu-bem. E o que sobrou além do filho amado, do cachorro e dos boletos para pagar? Sobrou coragem, cansaço e amor.

Duas décadas e meia depois, olho no espelho e reconheço em mim aquela mãe de 27 anos que optou pelo amor e seguiu sem olhar para trás, que cuidou do menino Diego, aquele pequeno que um dia aparou com a tesoura da casa os cílios e as sobrancelhas, após perceber o distanciamento do pai – a partir da separação e da mudança dele do estado e do país.
A minha história começa assim, como a de muitas e muitas mulheres independentes e empoderadas, para usar o termo do momento, hoje uma nomenclatura que ajuda o feminino a ter mais coragem na luta pelos seus direitos, no coletivo, como foi há cem anos. Entretanto, acredito que estávamos correndo de um lado para o outro na conquista do mundo e o sentimento do coletivo ficou adormecido nos últimos tempos desse último século, neste início de todas as conquistas, na independência da mulher ocidental. Uma tarefa hercúlea e solitária, mas que nos fez chegar até aqui.
Hoje, já no finzinho das comemorações do Dia Internacional da Mulher, relembro mulheres contemporâneas bradando que “na próxima vida quero voltar homem”, independente do credo. Hoje, cem anos daquelas conquistas, percebo um orgulho, uma determinação para novas conquistas, para um novo século de mudanças reais, onde ainda temos muito a fazer para as próximas gerações, independente do gênero. Penso também que podemos dar bonecas para os meninos ninar quando crianças, podemos ensiná-los a plantar uma flor além de ir ao jogo de futebol com o pai, podemos dar uma vassourinha de brinquedo, como fazemos com as meninas, para que possam ajudar nas tarefas domésticas, podemos também ensiná-los a gostar de bebes e crianças enquanto também são crianças, podemos ensinar os valores humanos que estão sendo colocados de lado.
E desejo que todas nós possamos ser desnecessárias para os nossos filhos. Como disse Dalai Lama, “Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.” Assim, após as novas conquistas para o novo milênio, desejo também que a mulher-mãe-profissional-independente-dona-do-seu-nariz esteja sentada em seu jardim, menos cansada e empoderada de paz.

Rio de Janeiro, 8 de março de 2018.
Foto, Dia das Mães de 2016, Eu e Diego, pelo olhar amoroso de Susana Ribeiro.

Circuitinho na Gávea | Segunda Edição

Quero convidar vocês para a segunda edição desse evento querido e encantador – o Circuitinho. que nesta edição recebe latas de leite em pó para o Inca Voluntário como ingresso para o evento.
Após sucesso absoluto da estreia do evento, em novembro de 2017, o evento acontece na Casa Rosa na Gávea, no fim de semana de 3 e 4 de março de 2018. As idealizadoras, o trio corajoso e competente formado por Joana e Julia Mendes, e Tati Bonaparte Dorf, aumentaram a programação grátis na tenda cultural, com a oficina de bolas de sabão garantida para encantar a todos nós. Tem Cynthia Howlett, que fala sobre alimentação saudável nas escolas, aula de yoga e alongamento para a família toda, além de sessenta marcas dedicadas ao universo infantil. Passa lá.

Trabalho de assessoria de imprensa realizado em parceria com Susana Ribeiro.

Programação gratuita na lona cultural:
Sábado, dia 3 de março:
13h às 14h, CORPO: Yoga para Pais e Filhos
14h às15h, ALIMENTAÇÃO: Oficina de Gastronomia, com Ana Elisa Castro (chef e apresentadora GNT)
15h às 16h, SUSTENTABILIDADE: Oficina de Boneco de Madeira, com Estúdio Ripa (Estudio de Joias e Bijuterias com madeira e materiais reutilizados)
16h às 17h, MÚSICA/DANÇA: Construção de instrumentos musicais com material reciclado, com Marco China (músico, capoeirista e artesão)
17h às 18h, MÚSICA/DANÇA: Conheça os instrumentos e seus primeiros sons, com Antonio Adolfo (músico e fundador do Centro Musical Antonio Adolfo)
18h às 19h, MÚSICA: Sarau com alunos do Centro Musical Antonio Adolfo

Domingo, dia 4 de março:
13h às 14h, CORPO: Alongamento para pais e filhos, com Power House (estúdio de pilates e treinamento funcional)
14h às 15h, ALIMENTAÇÃO: Palestra “Importância da alimentação nas escolas”, com Cynthia Howlett (Jornalista e Nutricionista)
15h às 16h,  EDUCAÇÃO: Autoconhecimento para pais e filhos através do seu signo, com Mônica Guinle (astróloga e psicóloga)
16h às 17h, MÚSICA/DANÇA: Aula de Hip-Hop, com criação e apresentação com crianças participantes, com Referência (escola de dança)
17h às 18h, MÚSICA/DANÇA: Conheça os princípios da batucada, com Mini Bloco (oficina e bloco de Carnaval infantil)
18h às 19h, MÚSICA: Show Mini Bloco, com a banda de crianças da Escola Parque

CIRCUITINHO:
Dias: 3 e 4 de março de 2018 (sábado e domingo)
Local: Casa Rosa da Gávea
End: Rua Marquês de São Vicente, 268 – Gávea, RJ
Horário: Das 12h às 20h
Entrada Adultos: Uma lata de leite em pó ou R$10,00, em prol do Inca Voluntário.
Crianças até 12 anos não pagam entrada (terão passe livre).
Serviço de Valet Parking no local.

Clipping 2017 e 2018: https://drive.google.com/open?id=0Byou4MpvKtcTbTJlQjY2ZF9KMkk

Compartir amor

Aprender um outro idioma é descobrir muito mais que novas palavras. É descobrir significados quando estamos em território que fala a língua. E foi assim que há um ano, em Montevideo, com meus amigos Tamy, Francisco e Mimi, e Nati, descobri o real significado da palavra em espanhol “compartir”, que é muito além da tradução “compartilhar”.
E descobri que este compartilhar é o que aprendi com vovó. É quando temos muito para dar sem nos preocupar com o tamanho dessa doação, sem se arrepender de ter coragem para amar o outro e abrir a nossa casa para aqueles todos além da família: os agregados e afins.
Em Montevideo, compartir foi muito além de dividir um churrasco, uma parrilla, uma casa quentinha. Foi acolhimento de quem compartilha o prato, o afeto, a disposição para ficar horas com o seguro viagem ao telefone, te dar uma decisão para te levar ao médico para acalmar, para saber que tudo não passava de uma gripe forte após uma farra noturna regada a vento, cerveja, Candombe e chuva – nesta ordem. E foi assim que ganhei uma família no Uruguay.

Saber receber é uma arte e haja disposição. Não é para os fracos.

A mesa posta, o café quentinho, muita conversa: é nesse cenário o grande abuso da minha existência na casa alheia, na casa da Patricia. Já chego para o lanche, para o almoço e até durmo. Tamanho desprendimento e cara de pau tem nome: Dona Jô, Joselinda – uma mistura de São José com Linda – a conterrânea das minhas raízes no Espirito Santo, mãe da parceira Patrícia. Dona Jô, que com sua voz mansa sempre me fez ficar mais um pouquinho. E ainda tem um agravante: atravessar a rua e estar na areia da praia. Até Diego, meu filho, ficava sem o famoso, “vamos mãe”. E isso também tem um nome: compartilhar amor. E Dona Jô me acolhe, me aquece, me lembra vovó.
Em 2014, quando mamãe começou a morar comigo (por conta do Alzheimer), passei com ela para dar um beijo de Natal na família Joselinda, no dia 25 de dezembro. Naquele dia, comentei com Dona Jô que nunca mais comeria uma rabanada, pois além da minha mãe não ter mais como fazer, eu me descobri intolerante a lactose. Conversa vai, conversa vem e, de repente, surge à minha frente um prato de rabanadas quentinhas. Fiquei muito emocionada e jamais me esqueço daquele dia. Eu e mamãe nos esbaldamos na rabanada feita sem leite algum, quentinha, uma de-lí-ci-a. Sentei no colo de Dona Jô, abracei e beijei agradecida. Patricia fez uma foto.
Desde então faz-se o ritual da rabanada na casa da amiga, e a mãe da amiga me acolhe com gosto de família. Mas no último Natal não teve o ritual, já que fugi para a Serra logo após o dia 24 de dezembro. Há duas semanas cheguei na casa da Patricia com a desculpa de falar sobre trabalho e algum tempo depois lá estavam elas, as-ra-ba-na-das. Diego, que comia a iguaria portuguesa por todo o ano, já que era só pedir que minha mãe fazia, me ligou na “hora agá”. Contei a façanha e foi quando a voz do outro lado disse “ah mãe, não comi nenhuma no fim do ano”.
O dia seguinte foi reservado para visitar Diego e Carol, para ver Fernanda (irmã da Dona-Nora que mora em São Paulo), para beijar Almeida OGato, para conversar e levar, de surpresa, uma quentinha com as rabanadas.
E foi assim que Diego, Carol, Fernanda, e uma amiga do casal, a Pri, compartimos o amor de Dona Jô em forma de rabanadas. E isso aqueceu nossos corações.

Rio de Janeiro, 11 de fevereiro, 2018

Foto montagem: Dona Jô e Sil (2014, RJ), por Patricia Fernandes;
Mimi e Sil (2017, Montevideo, Uy), por Francisco Vervloet

Sobre Cactos, amor e coisas afins

Este texto é repleto de referências, todas reais, de pessoas, de momentos vividos e vivenciados na vida real. Alguns sofridos, outros festivos, mas todos com amor, muito amor, por todos os lados que me envolvem. E poderia começar falando de despedidas, mas vou buscar o encontro, como aquele que vivi com Samuel, amigo atento, que partiu na semana passada e me deixou doída, seja pela ausência do bom pai de Carol e Fernanda, do conselheiro do prédio para os “jovens” e carinhos para a Gata-Maria, um bom tio e o pai que a vida deu ao meu filho Diego, e para o outro genro, o Alemão. Bons argumentos para sentir saudades.
Mas posso dizer que ao me despedir do amigo em São Paulo ganhei um lindo encontro em Amparo, onde vivem Paulo, Selma e Renata, em sítio no interior, onde Selma, a cunhada de Samuel, mulher de Paulo, mãe de Renata e tia de Carol e Fernanda, já dizia há tempos para mim: venha aqui nos visitar, você vai gostar. E amei. E ganhei pedras e cactos, e fui acolhida, e queria ficar pelo mato e queria dar mais e mais beijos em José Carlos, o vira-lata Zeca.
Mas mesmo quando tudo é amor, nem sempre fica fácil deixar para traz tantas despedidas, partidas que vamos transformando em saudade boa. E foi transformando dor em saudade que voltei ao Espírito Santo, em julho último, com a Tia como companhia – e garantia – para reencontrar os meus após 38 anos da última Páscoa com eles e papai, em 1978 (meu pai faleceu em novembro do mesmo ano).
E não foi somente reencontrar os primos Maria, Valter, Ana e Wolgo – e os seus e também meus – no estado que me da nome, mas reconhecer rapidamente em todos eles quem sou. Conversar e comer, e conversar e rir, e chorar juntos, como a família que éramos, com o que ficou nos nossos traços, com o que nos fez ser da terra, de contar causos enquanto tomamos pinga (eu e Valter, imbatíveis) ou café. As vezes é desta forma que vamos reconhecer quem somos de verdade, como reconheci em Paulo, Selma e Renata parte de Carol, de Fernanda, de Samuel.
Trouxe de Amparo, assim como do Espírito Santo, uma cachaça, plantas e pedras, uma bagagem repleta de emoções, família e vida de verdade, com gente de verdade. Hoje, ao colocar as mudas em suas novas moradas, pensei nos encontros que podemos nos permitir, no quanto precisamos tentar a renovação e a transformação dos sentimentos. E ao olhar para aqueles vasinhos na minha janela senti gratidão por todas essas pessoas queridas e por todos os encontros de amor que ainda vamos ter.

Foto: Silvana Cardoso