Uma tormenta era esperada para breve. A conversa também não parecia evoluir e logo também teria um breve fim. Melhor seguir caminho para casa, melhor ir embora antes do vazio do silêncio. Vento forte, barulho dos carros e as folhas que giravam nos pés de quem desejava diluir os sentimentos da despedida. Não estavam mais entre flores e folhas.
A vontade de pedir um abraço parecia existir, mas as dúvidas e as tormentas internas não permitiram. O que era bem bem bom já não morava mais ali, o que emocionava já magoava mais do que qualquer outro nobre sentimento. Tinham medo. Medos individuais e mútuos. Já não sabiam mais pedir um abraço, pegar na mão tinha a mesma dúvida daquele domingo agora distante, quando uma mensagem chegou sem medo.
Parece que tinham medo, de verdade. Olhando meio de longe, melancolicamente angustiado, olhando assim na terceira pessoa, vejo que a verdadeira coragem do início foi transformada numa breve covardia pelas partes. E assim se calaram no meio do vendaval, dos olhos marejados pela desculpa da poeira que circulava o vento, as folhas entre os pés, entre os sentimentos e as lembranças boas e ruins.
Ainda havia o pensamento de que a amizade, o carinho e tudo que pontuou o início, estavam lá. Uma escolha. Será que ele deve se perguntar o quanto ela vai sentir falta dele? O quanto de tempo vai demorar para esquecê-lo como tudo? O quanto ela gosta dele? Será que ela deve se perguntar o quanto ele vai sentir falta dela? O quanto de tempo vai demorar para esquecê-la como tudo? O quanto ele gosta dela? Acho mesmo que não se despediram. E se tivessem se abraçado?
Do texto anterior, como espectador sutil e feliz, diante da descoberta deles, naquele domingo, me parece que se perderam entre as casca, as flores, as folhas e o tempo de separar as cascas e renovar as flores e as folhas. Um dia, após a passagem do tempo, quem sabe alguém passe outra mensagem dizendo o que estava passando por dentro, de verdade, naqueles dias de tormenta.
Um dia também foi dito que só a sabedoria do tempo poderia dizer se iria perdurar ou devorar, mas tentaram decifrar a esfinge.
Poderia ser simples, como as palavras que comovem e emocionam.
fevereiro, 2009
Foto: Silvana Cardoso | Flip, Paraty, Casa Sesc, 2016