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Daniel e Portugal

Falei para Susana: não vou batizar. Acabei de ter um câncer e não acho justo esta criança ganhar uma madrinha quase idosa e já com uma doença grave no currículo. Mas não teve argumento que fizesse a mãe mudar de ideia. Em 2015, aos dois anos, Daniel ganhou uma madrinha de cinquenta, com as tais qualificações.

Naquele ano, a vida começava a ser retomada e os pedidos de Susana era para um encontro em Portugal, já que Daniel seria apresentado para a sua família de lá. Hesitei. Jamais poderia ficar um mês fora do país, mas quem sabe uns dias. Uma viagem um pouco diferente para ser “férias em Portugal”: não deveria extremos. E lá fui eu com uma mala quase vazia para ficar doze dias fora de casa. Da concha. Da segurança dos médicos. Embarquei sozinha. Cheguei.

Fui para a pequena cidade de Santo Tirso, trinta minutos do Porto. Lá era a base da viagem, na cia da Susana, do seu pai, o querido Vovô Mario e da Helo, amiga da família. Brincava que éramos já quase idosos com uma criança de dois anos. O meu Dindi, como chamo Daniel.

Nos primeiros passeios pelos jardins, calçadas e ruas pouco movimentadas da cidade, Daniel passava algum tempo fora do carrinho. A comadre não conseguia liberar a criança sem um barata voa de todos correndo para pegar o pequeno. Entendi a questão.

Daquele inicio das férias em diante, sem perceber, parecia injusto fazer uma viagem daquelas com uma criança presa a um carrinho. Passei a estar presa a ele nos nossos passeios. Empurrei, sentei ao lado. E ficamos juntos ali bem cedinho naquela estação de trem, rumo ao Porto e  a Lisboa. Fiz uma foto. Fiz duas. Fiz algumas do seus lindos olhos azuis. Fiz muitas fotos de Daniel. Entreguei o celular para ele, abaixada e grudada para o clique. E assim a viagem transcorreu. Eu sempre colada nele, no carrinho. Ele, com o dedinho frenético no botão do meu telefone. Deixei com som para fazer clique, clique, e Dindi amava. Quando soltava ele do carrinho, andávamos de mãos dadas ou corríamos. Mas tinha um celular para negociar nossas fotos.

Revejo as imagens divertidas, e em sequencia, nos pontos turísticos que nunca aparecem. Daniel foi nosso fotógrafo naquelas férias que me trouxeram de volta – com ele, a paz de deixar acontecer com leveza. Aquilo que eu precisava para retomar algo que havia perdido com o câncer, ali em 2014.

E sempre revejo as fotos com nossos rostos grudados. Eu abaixada ao seu lado no carrinho. Sorrisos. Um ao lado do outro, como foram todos os dias daquelas férias em Portugal. E isso ainda aquece o meu coração.

P.S: Daniel vai fazer dez anos em 2023. Me chama de dindinha. Brincamos muito e ouço suas histórias. Somos muito grudados. Quando vou de visita, dormimos juntos e sua mãozinha fica embaixo do meu travesseiro. Ele sempre desliga o telefone dizendo que me ama e que está com saudades. Eu respondo que o amo muito e que também estou com saudades. E assim, percebo que foi bom para nós a comadre Susana não ter desistido de mim.

No Instagram, algumas fotos dessa história:
https://www.instagram.com/p/CkoYkMwpnXD/

UMA ÁRVORE DE NATAL, CRÔNICA NA ANTOLOGIA DO SARAU ATEMPORAL

Convido vocês para a leitura da minha crônica, abaixo, Uma Árvore de Natal, que está na Antologia de Natal do Sarau Atemporal 2021, da Editora Apena @apena.editora, que estou participand
Desejo um amoroso e ensolarado 2022!❤️🌻❤️
Antologia de Natal estea disponível para leitura, gratuitamente, pelo link: https://cutt.ly/cY7Guvb (autores por ordem alfabética. Uma Árvore da Natal está na página 82).

Uma Árvore de Natal

Percebo que deixei de lado a minha pequena e companheira Árvore de Natal neste dezembro. Mas arrumei um lugar para ela em cima de uns banquinhos coloridos que habitam a sala. Me pareceu que ela está feliz ali. Mas não pendurei seus enfeites. Até comprei mais alguns, como faço todo ano, mas os dias passando, dezembro avançou e não me reuni envolta dela, sentada no chão da sala, para colorir suas hastes ainda verdinhas com velhos e novos penduricalhos. Juntei por perto uma caixinha de lâmpadas pisca-pisca que comprei no ano passado. Ela ficou ali. Nada justo com aquela pequena árvore que já chegou com suas bolinhas vermelhas de metal nas extremidades.

Ela me conquistou de relance, após um dia de trabalho temporário, quando o andar apressado parou em frente  à pequena lojinha na Rua do Rosário, no Centro do Rio de Janeiro. Naquele tempo de pouca beleza, fazia o caminho até o ônibus por ali, para ver o colorido das  lojas de flores da rua. Parecia pequena, mas uma boa possibilidade da casa ganhar o colorido de uma árvore nova, após um ano duríssimo, em todos os sentidos.

Neste amontoado de anos, aventuras de três décadas desde aquele fim de tarde, quando resolvi levá-la para casa. Ali, ela representava conquistas de algum trabalho após uma separação dolorida, com um filho pequeno e triste para consolar.  Sim, com coragem e determinação em me acompanhar, minha Árvore de Natal pode contar aventuras e desventuras de uma mulher repleta de possibilidades e reinvenções. Ela me ajuda a separar estas décadas. E me faz lembrar, quando a cada dezembro nos reencontramos e, enquanto baixo os seus galhos e coloco seus enfeites, passamos a limpo o ano em questão.

Em anos de casa cheia, numa década ainda perto, uma árvore grande foi colocada na sala, para que os pequenos, o afilhado e filhos dos amigos, pudessem ter uma tarde de entrega de presentes com mais impacto. Árvore exuberante. Como estava a vida naqueles anos, mais nos trilhos, entre os amores que me cercam e outro que havia chegado. Mas a minha pequena árvore nunca ficou sem estar por perto. E, naqueles anos, esteve junto, no meu local de trabalho. Mas a grande árvore não se sustentou naquela sala, naquela década que parecia perfeita. Seguiu. Não a pequena Árvore, que comigo se mudou de casa. De vida. De cidade.

Neste 2021, ainda dando pequenos passos de conquistas para lá e para cá, ainda tateando os últimos dias de mais um ano desafiador, faltando exatos dez dias para o tão esperado 25 de dezembro, minha pequena Árvore ganhou seus enfeites. Ganhou também um laço dourado no seu galho verde mais alto e o pisca-pisca de colorido leve, de mudança de cores quase em lentidão. Conversamos. Falei do tempo de incertezas, das pequenas alegrias que ainda cultivo. Confessei meus medos. Partilhei pequenos segredos para este 2022. Mas, da nossa cumplicidade, o que não mudou no compartilhar com a minha pequena Árvore de Natal foi a fé na vida que me alimenta – com as palavras que transbordam de mim e me consolam, com o desejo que as fatias de 2022 sejam de tempos de paz. E de leveza, para os meus amores e para a humanidade.

Feliz Natal!

Pedro do Rio, Petrópolis, RJ, 15 de dezembro de 2021.


MUITO ALÉM DAS ABOBRINHAS

Ela é de sabores fortes e prefere salgados pela manhã. Uma pasta de atum tá de bom tamanho. Costuma usar o batom mais vermelho que já vi na vida, tipo cara de boneca. É uma mulher grande. Gosta de guardar coisas e sempre diz: mas se eu precisar de um parafuso eu sei onde está, uma fita, eu tenho!
Sem críticas, é divertido pedir coisas e ela ter coisas, coisinhas e eteceteras. Mas o melhor é observar que neste contorno está uma pessoa que atende o outro, ajuda o outro. Se você tem uma chave de fenda na gaveta, como não vai ajudar na minha mudança, no conserto do São Francisco de madeira ou o meu Mac que deu uma desconfigurada? 

Designer das boas. Produtora de arte de uma sensibilidade absurda para o bom gosto. E, com tantos talentos para o bom gosto, claro que viajava com as listinhas de compras das amigas em um caderninho. Nos últimos tempos, fez as pazes com os desenhos, ou com a sua aptidão para lindos rabiscos. 

Um dia, uns dias, abrimos o escritório na praia, já que fomos demitidas da empresa onde trabalhávamos no mesmo dia. O que fazer se não rir da nossa própria cara, era o nosso mantra. Quando passei a mensagem sobre a lista de compras, ela ao menos perguntou o motivo e andou rapidamente, até comentei brevemente que era sobre um texto.  A moça de paladar apurado, que assumiu estar perto e cuidar dos pais  bem antes de ter motivos, está ao lado da mãe após a partida do seu pai, além de toda burocracia familiar, obvio. E naquela listinha de mercado e de farmácia da semana veio a moça que ganhou umas alterações, como um colesterol, umas vitaminas e um apego por tantos legumes e verduras que precisei fazer uma piada do tipo, saudável, hein? O que ela retrucou: “A gente tenta rs” 

Tempos e tempos se passaram, duas décadas exatas daquele ano de demissões no mercado da música carioca. Quantas praias, quantos choros,  até andamos mais idosinhas, mas ainda adoramos essa coleguisse de meninas. Minha amiga Pat (@patfernandes) é tão companheira que numa praia sagrada de um 31 de dezembro, lá de cima, do céu azul do verão carioca, deslumbramos um bando de  biguás que fazia desenhos em V. Linda passarada, ave aquática, também conhecida como corvo-marinho. Sim, elas cagaram nas nossas cabeças e corpinhos desnudos em uma tarde de ano novo. E como não rir da nossa cara!? 

Foto na praia, claro!


PARA O MULHERES JORNALISTAS: VINÍCIUS DE MORAES: SEU AMOR E OUtRAS BELEZAS.

Por Silvana Cardoso, jornalista Rio de Janeiro
Instituto Mulheres Jornalistas

Chefe de Reportagem: Juliana Monaco
Vinícius de Moraes: seu amor e outras belezas

Quem amou mais que Vinícius de Morais? Poeta, compositor, dramaturgo, jornalista e diplomata, que nos deixou há 40 anos, em 1980, mas também nos deixou em sua diversa obra a certeza de que seus 66 anos foram para amar e viver intensamente. E sempre vale testemunhar o vasto amor em seu acervo, em verso e prosa, em músicas inesquecíveis, eternizadas em parcerias geniais. Um acervo para especialistas em literatura, amadores, apaixonados por música. Mas em tempos de amor enclausurado, a ideia deste texto é convidar para experimentar a possibilidade de amar sem medo, pois sofrer e sentir saudade e pedir para o ser amado voltar estão sempre presentes na obra amorosa de Vinícius. Que passa pelo amor efêmero, pela melancolia, pelo sensual, pela humildade, pelo perdão. E o compositor sabe pedir perdão para a amada, seu ser maior e, como ninguém, viveu a verdade da sua poesia, com nove casamentos, com mulheres inteligentes que lhe deram filhos, amor e nem sempre abaixaram a cabeça para os seus pedidos de desculpas.

Toda a cronologia, além de muitas histórias e muitos escritos, e toda uma vida cantada pelo mundo, está em dois endereços digitais que abrigam o acervo de Vinicius de Moraes: o site oficial que leva seu nome e o recém-lançado acervo Vinícius de Moraes, idealizado e produzido por sua neta Julia Moraes. Com o intuito de proteger manuscritos do desgaste do tempo, o arquivo apresenta não só os poemas, mas ensaios, peças de teatro, discursos, cartas trocadas em seu período de exílio e como diplomata. São mais de 11 mil documentos originais, 34 mil imagens, que foram distribuídos como Correspondências, Produção Intelectual e Documentos Diversos. Um projeto feito em família, já que o design e a coordenação técnica são do sobrinho-neto Marcus Moraes e a direção geral é da VM Cultural, pelas filhas Georgiana de Moraes e Maria Gurjão de Moraes. Vale também conferir a obra e biografia de Vinícius de Moraes em livros, documentários e em seus canais nas mídias digitais.

Mas na semana do Dia dos Namorados, fica a dica para conhecer também o jovem que, aos 20 anos, já havia publicado quatro livros de poemas e, só por isso, já vale contemplar a obra de um dos mais ilustres autores do nosso país. Mas para falar do que começou no modernismo de Mário de Andrade e invadiu Vinícius, a melhor tradução desse amor do amor, das formas do amor, do amor efêmero, humilde, da saudade e sensual, já que, em seus poemas e letras de música, o amor e a mulher amada sempre estavam em primeiro lugar, seja pela conquista, seja pela beleza do ser amado, mas a cada estrofe está lá aquele amor que não se mede para a hora do pedido de perdão. Ou mesmo o amor eterno amor, para sempre com Eu sei que vou te amar, de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, que diz: Eu sei que vou te amar / Por toda a minha vida eu vou te amar / Em cada despedida eu vou te amar / Desesperadamente, eu sei que vou te amar / …; o amor que chega sem pedir autorização, quase não correspondido no poema Ternura, de 1938, que diz: Eu te peço perdão por te amar de repente / Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos / Das horas que passei à sombra dos teus gestos / Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos / Das noites que vivi acalentado / Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo.

Em Orfeu Negro, texto que estreou no teatro em 1956, mas que desde 1942 Vinícius perseguia a ideia de transpor o mito grego de Orfeu para uma favela carioca. Assim nasceu a tragédia carioca em três atos, história ambientada no Carnaval que apresenta um herói negro, Orfeu, e sua amada, Eurídice. Ganhou Oscar como filme estrangeiro em 1959, dirigido por Marcel Camus, numa coprodução Brasil-França-Itália, e nova versão de Cacá Diegues em 1999, com o nome de Orfeu do Carnaval. O amor proibido e repleto de conflitos de Orfeu e Euridice também marcou o início da parceria com Tom Jobim, que assinou as trilhas da montagem teatral e do filme de 1959. Mas o texto de Vinícius de Moraes apresenta o Carnaval, a favela, o negro no protagonismo, mas todo o contexto estava a serviço da sua poesia, do amor de dois jovens, como diz uma das falas do personagem principal: “São demais os perigos desta vida / Para quem tem paixão, principalmente / Quando uma lua surge de repente / E se deixa no céu, como esquecida. / E se ao luar que atua desvairado / Vem se unir uma música qualquer / Aí então é preciso ter cuidado / Porque deve andar perto uma mulher. / Deve andar perto uma mulher que é feita / De música, luar e sentimento / E que a vida não quer, de tão perfeita. / Uma mulher que é como a própria Lua: / Tão linda que só espalha sofrimento / Tão cheia de pudor que vive nua.”

Como não amar Vinícius de Moraes, como deixar de falar de obra tão fenomenalmente representada pelo amor e amizade entre o poeta e seus pares, pelo amor pelas mulheres, que dedicou muito da sua obra. Como Gilda, sua última mulher, 40 anos mais jovem, sua única viúva, como ele mesmo dizia que ela seria, que após um pedido de autógrafo em Niterói, no Rio de Janeiro, a jovem fã estudante de Letras encontrou o poeta novamente em Paris, uma década depois, e se tornou sua mulher pelos dois últimos anos de vida de Vinícius de Moraes. E assim, Gilda Queiroz Mattoso deu ao Poetinha a leveza de jovem a um homem apaixonado, pelas mulheres e pela vida.

Para embalar o desejo de estar apaixonado, ficamos com o célebre Soneto da Fidelidade, que foi musicada por Tom Jobim e ganhou, e ainda ganha, estudos literários. Quem não amaria ter coragem de amar assim?

Viva Vinícius!! Viva o amor!

Soneto da Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

http://www.viniciusdemoraes.com.br
Acervo Vinícius de Moraes 
Foto, direitos reservados, VM Cultural.

SAUDADE É O AMOR QUE FICA

Ando impregnada de saudades diversas. Ausências que se misturam com os aromas, os sabores e os cheiros de cada um, de cada coisa. E se aninham na saudade que foi me tomando todo o sentimentos de mãe, de sogra, de filha-sobrinha, de prima, de amiga, de madrinha, de vizinha, de fazer farra com as garotas do supermercado do bairro.
Mas ontem, e antes de ontem, as notícias, as preocupações com os meus de perto, os próximos, os não tão próximos, a cidade, o pais, ando doída dessa saudade do amor que fica, que me aperta o peito dizendo: vai passar, mesmo doendo, vai passar.
E hoje, Dia das Mães, que Vovó dizia ser todos os dias, me abraço às fotografias da última visita de Diego aqui em casa, em Pedro do Rio, o último jantar com DiegoCarol e os gatinhos, a feira de sábado com a TiaMãeMarlene e Deise, a minha conchinha. Meu afilhado e a briga para quem come mais batatas coradas no almoço, enquanto a comadre Susana briga para deixarmos “pro vovô”.
Saudades diversas de muitos amores que me habitam o peito e a alma, com o amor que fica dentro e fora de nós enquando esperamos por dias mais felizes para a humanidade. E rezo por isso todos os dias, por todos.
Mas Deus, que sempre me desafia, me brindou com um filho emprestado, que chegou esta semana com os desdobramentos da quarentena.
E enquanto a vida de uns está vazia, a minha rotina está de casa cheia de alegria e tatefas, com a chegada de Lucas e Aquiles – filho de 23 anos do meu marido Alfredo e seu idoso cão.
Peço licença aos que passam por aqui para falar com Dico, Carolzita e gatinhos, TiaMinha, DeiseConchinha, Dindi, Susanete, Pat, Mimi, Tatá, Alzer e Tintia, Bruno e Binalda, Andrea, APaula, Juju, Giloca, Sergio, Joaninha, Regina e João, Pat e Nuxa, Helen, a Renata que chegou agora com a força de quem segura na mão e aquece o meu coração, e, a todos, o meu mais afetuoso e apertado abraço de domingo.
Mas como saudade é o amor que fica, passo por aqui impregnada também desse amor que distribuo para todos vocês.
Feliz Dia das Mães!

O QUE APRENDI AO FAZER PÃO

Maria e Ana, minhas primas do Espirito Santo, sabem fazer pão como ninguém. Carol, minha nora, faz um pão com fermentação natural que é uma loucura. Minha relação com fazer pão vem das muitas lembranças que tenho da Dona Rita, ou Ritinha, como eu chamava minha sogra, que fazia pão para mim grávida do Diego.
A massa descansando com o pano de prato em cima da bacia, o cheiro que vem do forno quando começa a assar, a manteiga derretendo na fatia fumegante. Hummm, como eu queria conseguir fazer um pão. Pensava todas as vezes que comia um pão caseiro.
Não que eu seja um zero à esquerda na cozinha, mas fazer um pão era um grande obstáculo. Talvez por uma valorização de que pode não crescer, nem sempre dará certo, e todas as possíveis desventuras de quem se aventura a fazê-los. Assim, passei décadas imaginando que um dia eu faria um pão e que comeria ele quentinho saído do forno.
Há quase um ano criei a tal coragem e não posso dizer que foi fácil, que os braços e as mãos não sentiram a força da massa, que de três pães a massa dobrou, e não me perguntem o porquê, ao final do amassa a massa eu tinha seis pães prontos para o forno.
Amassar na bancada da pia vazia, achar o ponto, modelar, a dúvida se daria certo, sair correndo para comprar mais um quilo de farinha de trigo. Tudo que passeava pela minha cabeça enquanto parecia uma eternidade aquela decisão de fazer pão em um sábado qualquer.
Mas enquanto o sonho e a decisão de fazer o pão estavam ali à minha frente, elas se misturavam com a decisão de mudar de cidade e vir morar longe da família em um sítio. Percebi que ali não era só o pão que poderia não crescer, ali não era somente o suor que descia pela minha testa pelo esforço da massa que cresceu demais, ali estavam as minhas escolhas e os riscos delas.
Acho que misturei naquela bancada a decisão de fazer o primeiro pão aos 54 anos com a certeza de que nunca mais eu iria parar de fazer pão.
A decisão, o esforço, o risco. Os elementos da conquista e da certeza de que mesmo quando não sai como o esperado poderia arriscar outra vez – seja na feitura do pão ou na escolha de onde morar.
Naquele sábado, quase noite alta, as garotas do sítio, Nuxa, Joana e Patrícia, chegaram com um vinho e, entre uma fornada e outra dos pães, comemos e falamos da vida como se não houvesse amanhã.
E, por enquanto e por aqui, parece que a receita vem dando certo.
(Texto produzido no curso de Escrita Criativa e Afetuosa, ministrado por @anaholandaoficial )

Pedro do Rio, 2 de fevereiro de 2020.
Foto que fiz no café da manhã do domingo, no dia seguinte daquela aventura de fazer pão.

VILA ENCANTADA DE NATAL 2019

Penso que pode ser maravilhoso conseguir levar a Vila Encantada de Natal para outros estados além do Rio de Janeiro, já que estamos falando de um projeto gratuito, com inclusão social e muito amor envolvido por toda a equipe, num total de 200 pessoas.
Faço parte do projeto desde a sua primeira edição e no dia 11 de dezembro de 2019, chegou ao Rio de Janeiro a terceira edição da Vila Encantada de Natal http://www.vilaencantadadenatal.com.br, o evento itinerante de Natal mais amado do estado.
Apresentado pela Enel e pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e Lei Estadual de Incentivo à Cultura, a Vila Encantada de Natal vem conquistando mais e mais pessoas de todas as idades. Este ano, o evento passou por dez municípios do estado com uma programação ainda maior, com oficinas de enfeites natalinos e brinquedos sustentáveis, oficinas de canto & coral, espetáculo teatral e cinema.
O evento produz muita magia para tocar os corações dos moradores dos dez municípios que receberão a Vila Encantada de Natal, que chega com uma programação que resgata da tradição natalina os valores humanos mais essenciais, como o amor, a fraternidade, a esperança. O projeto foi apresentado nas cidades de Campos de Goytacases (11/12), Macaé (12/12), Cabo Frio (13/12), Rio Bonito (14/12), Maricá (15/12), Silva Jardim (16/12), São Gonçalo (17/12), Petrópolis (18/12), Resende (20/12) e Duque de Caxias (21/12). A entrada é gratuita.
Programação por município
9h às 12h: *Oficina de Arte da Vila:
Sala 1 – Enfeites Natalinos e Brinquedos Sustentáveis; Sala 2 – Canto & Coral.
14h às 17h: *Oficina de Arte da Vila:
Sala 1 – Enfeites Natalinos e Brinquedos Sustentáveis; Sala 2 – Canto & Coral.
A partir das 17h: Atração: Globo de Neve Gigante
18h: **Cinema de Natal: Olaf em uma nova aventura congelante
19h:
Apresentação Canto Coral
20h: **Espetáculo teatral: Vila Encantada de Natal – A magia que ilumina
21h: Encerramento do Evento
Foto Juliana Chalita
Clipping Assessoria de imprensa: https://drive.google.com/open?id=1NwQMBr_9vomxjwQnaNiEXQ7nWZntXCPd

COM CHEIRO DE CAFÉ

Quando a porta do quarto se abriu veio o cheiro do café fresco da cozinha. E tem sensação melhor ao acordar? Para mim, não. Melhor ainda é acordar com a mesa posta e ter à mão uma boa caneca de café que possa dissipar o cansaço da pneumonia, descoberta há dois dias.
Vovó dizia que um café quentinho cura tudo e na casa da minha infância sempre tinha café fresco em cima da mesa, com a toalha em meia lua para quem chegasse de repente. Mamãe tinha a cara de pau de estar com sono e dizer “vou passar um café para tirar esse peso da minha cabeça”. E Diego herdou de mim e das avós a mesma paixão e quando durmo no Rio, na sua casa, acordo com o cheiro do seu café. Saio do quarto, ele me entrega uma caneca cheia de café forte, como gostamos, e acho isso lindo. 
Hoje acordei melhor que ontem. A pneumonia parece que começa a ceder a medicação. Lá fora o alvoroço dos casais de maritacas, enquanto sabiás e cambaxirras duelam seus cantos. 
Comecei este texto no dia 9 de setembro, mas não consegui terminar. Talvez o volume do trabalho misturado aos cuidados com o corpo e a mente me tomaram de assalto o tempo de escrever. Quase vinte dias depois, o pulmão reclamão está quase bom.
Mas hoje, ao acordar, teve café cheiroso entrando pela porta do quarto e resolvi tentar retomar o escrito. E cá estou para contar que o cheiro do café sendo feito pela manhã tem para mim o acolhimento de estar em casa, de família, da minha avó e mãe, do Diego-amado.
Agora, o café que cura todos os males também é acolhimento para o amor que deixei entrar meio que de repente. E sem saber muito bem falar sobre estas emoções de estar à dois, de ter companhia para dividir e somar no dia-a-dia, cá estou deixando o cheiro do café falar mais alto e, junto com os pássaros que após um longo inverso chegam na primavera, cá estou a tagarelar pela manhã com alguém que tem me alegrado os dias, que enche de música a pequena casa que escolhi morar na serra e me conquista com seu amor e sensibilidade, que conversa com as plantas e ouve o silêncio, que com sua velocidade de Papa-Léguas encantou a tartaruga que vos fala.
Com gosto e cheiro de café gostoso, gratidão ao Allfredo por ter me descoberto e por estar me cuidando e me ensinando a amar outra vez. Por saber que tenho asas, mas que podemos olhar na mesma direção para voarmos juntos nesta madura etapa de nossas vidas.
Hoje amanheceu chovendo muito, após uma longa seca por aqui. Sabiás e cambaxirras cortavam o silencio ao amanhecer, em meio aquela mesma confusão das maritacas. Hoje o barulho da chuva me acordou com o cheiro do café, com aroma da casa que gosta de dar bom dia aos passarinhos.

Foto AlmeidaOGato e Dudu, Silvana Cardoso

O PRÍNCIPE POEIRA E A FLOR DA COR DO CORAÇão

Hoje foi a última sessão do espetáculo O Príncipe Poeira e a flor da cor do coração, que fiz a divulgação durante a temporada no Oi Futuro, no Rio de Janeiro. Espetáculo infantojuvenil que aborda temas delicados, como a diversidade, a morte, o amor, a intolerância. Texto e direção de Saulo Sisnando, que conseguiu tocar as pessoas com sua delecadeza na fala, na cena, no tempo de cada situação explorada pelo competente elenco formado por Amanda Melo, Daniel Dias da Silva, Fabrício Polido e Nedira Campos. Idealizado pelo ator e cantor Marcelo Nogueira, a montagem contou com a produção da querida Cacau Gondomar. Um lindo e comovente espetáculo que pode ajudar o mundo a entender que podemos ser diferentes e, ainda assim, sermos gentis uns com os outros.
Foto de cena: Luciana Mesquita

Clipping matérias publicadas: https://drive.google.com/open?id=1JLhL_7wVJM2jVLkUtuKeZTI7MiRW2gKf


Conexão Páscoa

Precisei arrumar a mala, fazer caber doces e cachaças. Mudas de plantas. Pensei que não daria conta de arrumar lugar para tudo, mas como não caberia tanto amor, misturado às minhas lembranças naquela bagagem de Páscoa.
Percebi ali, sentada no chão do quarto da prima Maria, que a conexão estava lá, que não havia se perdido – entre a nossa última Semana Santa na roça, no Sitio em Ponte do Balanço, em Santa Leopoldina, em 1978 e os nossos almoços e jantares desta Páscoa, em 2019.
Papai costumava visitar a única irmã que permaneceu no Espírito Santo. Tia Nair, o marido, Tio Orlando e os primos nos esperavam todos os anos  para comer a torta capixaba, tradição nas refeições de sexta, sábado, domingo, e enquanto durarem os estoques da iguaria. Mas papai nos deixou seis meses após aquela Páscoa de 1978 e nunca mais consegui retornar. Garota que precisou dar conta das ausências e talvez por honrar o luto da minha mãe, que jamais se recuperou daquele amor perdido num enfarto, quando ele tinha quarenta e seis e ela trinta e seis anos. 
Mas o tempo que passa é o tempo que cura, que dá a oportunidade de reconectar com o que temos de mais precioso: memória afetiva de boas lembranças – pessoas, lugares e comida. E enquanto as malas giravam na esteira do meu desembarque no Rio de Janeiro, pensei nesta connexio, palavra antiguinha que vem do latim, que ganhou novo significado na era digital.
Conexão: substantivo feminino, ligação, coesão, relação, ajuda. Palavra que representa ligação com a minha memória afetiva com eles, e com meu pai. Quando, com a ajuda deles, através deles, recupero as nossas memórias que constroem e resgatam a nossa relação: com Valter conversa, acolhimento, paizão de todos e o tipo físico; a molecagem e a lembrança do Wolgo (para mim o menino-Wolgo da minha lembrança), quando me mostrou o último presente do Tio, um caminhão de madeira que ganhou naquela Páscoa distante; Maria e sua generosidade em me cuidar, abraços de barriga, minha jardineira preferida. A nova, proveitosa e divertida conexão com os filhos dos primos, com Cinha, mulher do Wolgo e com Maria, mulher do Valter e, Zé Luiz, marido de Ana.
Com Ana, prima companheira daqueles feriados quando juntas, com os meninos Wolgo e Mazinho, íamos pular no riacho e debulhar milho para as galinhas.
Nesta Páscoa não faltou torta capixaba, piada, o humor, que marcam a nossa essência. Mas Ana, cozinheira de mão cheia, colocou à minha frente uma caixa com o doce que vovó fazia para levarmos. Paralisei. “Esperávamos ansiosos o Tio com as caixas de camisa com os doces da Dona Maria. Era o melhor da Páscoa”, me disse Ana. Lhe apertei nos braços e chorei. E eles eram o melhor da minha Páscoa.
Desembarquei com a saudade breve dos daqui, do Rio de Janeiro, do sítio em Pedro do Rio, precisava abraçá-los. Peguei minha mala cor de abóbora com o coração aquecido de amor e cuidados, com o desejo de manter a connexio com os que amo, sempre

Na foto, o CW morse telégrafo do meu pai, um homem da terra que me ensinou a manter a conexão. 

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