Quando respondi João Paulo Cuenca no Megazine | Pseudônimo

Numa segunda-feira de 2009 abri o Megazine (O Globo) e dei de cara com a página “Sobretudo”, assinada pelo escritor João Paulo Cuenca. Tinha o sugestivo título “Conselho ao ladrão”, um papo reto com o novo dono do seu celular. Não resisti à tentação e, com um pseudônimo, escrevi a resposta do ladão e mandei para o Mega, que publicou como “Conselho do ladrão”. Foi muito divertido. Nas imagens, as páginas publicadas – Crônica (dia 14/04/2009) e a resposta (21/04/2009). Abaixo, o texto original.

Caro Sr. João Paulo,
Em primeiro lugar, obrigada pelas informações sobre o conteúdo do seu aparelho de celular. Aproveito para dizer que não sou pianista, mas fui lá ouvir a música indicada e gostei. Parece bobagem, mas tenho um refiando gosto musical. A mão leve, se me permite a licença poética, também foi treinada como a de um virtuose do piano. Começo com as músicas, pois a seleção é bem eclética e diferente de tudo que ouço por aí, mas gostei bastante de Neil Young, ou mesmo Duke Ellington que o senhor também indicou.

Conheço bem a Lapa, mas não me sinto confortável com a possibilidade de entrar no Capela, já que não quero mais vender o seu celular e, passei na porta do dito restaurante para olhar o cardápio. Tem cabrito! Parece coisa de pobre comer cabrito, mas tudo bem, artista é mesmo gente estranha de se entender. Contudo, gostei da indicação dos amigos Márvio e Fabiano, já que ando meio desanimado com as minhas conquistas amorosas dos últimos tempos. Será que eles poderiam me atender para umas dicas?

Não entendi muito sobre fantasias estéreis que, ao meu ver, parece coisa de gente que não consegue desligar o botão para se apaixonar pelo balanço da saia que passa ao largo dos nossos olhos, quando estamos tomando uma cervejinha lá com a rapaziada. Elas sabem bem como fazer o gingado e vão olhando de soslaio para ver quem está observando. Não é assim?

Resolvi entender mais um pouco sobre os seus amigos ou aquelas donzelas ousadas que o Sr. menciona e oferece. Não, obrigada. Já tenho muitos problemas para administrar com as moças lá da comunidade e não me sobra tempo para uma agenda tão extensa como a sua.

Só gostaria de dizer que moças ousadas também ajudam a esquecer o remorso do que fizemos num passado não tão distante. Quantas vezes fomos ousados e impiedosos com sensíveis moças que só queriam ser isso, sensíveis e amadas. Assim, vamos deixando as moças ousadas na agenda para que a dúvida da dor nos leve ao próximo furto, de corações, claro. Estou quase um poeta, como o Senhor, mas me perdoe as letras que busco para expor algumas dúvidas quanto ao seu estimado objeto.

Aproveito para dizer que a árdua tarefa de recompor os perdidos amigos pode ser uma diversão para esquecer o ocorrido. Fico imaginando o pobre Antonio Prata atendendo o meu telefonema na madrugada, para pedir uma simples opinião sobre as manchas roxas de uma tal donzela que o Senhor não lembra do telefone dela de cabeça e aí, sinto muito.

Queria entender mais sobre este tema, mas não sou letrado ou viajado para ter dúvida tão importante nas minhas anotações diárias que, aliás, me será de extrema utilidade o bloco de anotações que herdei.

Coitado do tal Antonio Prata. Fico imaginando se o seu amigo está pensando que eu vou ligar. Diga para ele que não, pois a vida é corrida por aqui, sem muito tempo para ficar discutinho essas dificuldades emocionais dos poetas, estas coisas a respeito da insídia do amor do comportamento feminino. Uma loucura Seu João Paulo.

Queria muito ser uma pessoa mais “pensante”, mais letrada, como diria minha avó, mas me faltam as faculdades para tal. Assim, meio que de repente, me despeço agradecido pelos conselhos.

Ah, as fotos do show são bem mais ou menos, não gostei muito. Talvez as fotos de moças donzelas estejam com melhor foco. Vou procurar aqui…
Abraços do novo dono do seu celular.

 

Título original: O ladrão de Cuenca, em 15/04/2009
Imagens: Acervo O Globo Digital, em JPG

 

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