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Por: Silvana Cardoso do Espirito Santo
Uma mulher consegue uma entrevista de emprego mas, na data, seu pequeno filho de dois anos amanhece com muita febre. É possível imaginar que esta mãe ligará para o RH da empresa para avisar que está impossibilitada de comparecer e pede uma nova oportunidade ou ela pede para alguém da família ajudar ou desiste da entrevista e leva a criança ao médico?
Com o mercado de trabalho em revolução neste ano de 2020, mesmo que a pergunta acima esbarre na jornada profissional da mulher em home office, a resposta passa pela culpa de uma mãe priorizar o trabalho, passa pela angústia de não poder falar a verdade sobre o filho com febre. Aliás, ainda no Brasil atual, quando as mulheres começam a conquistar espaço de voz por igualdade, mesmo agora, é possível imaginar um pai nesta situação?
Para nos ajudar a entender melhor estas e outras questões do mercado de trabalho para as mulheres em 2021, vamos conversar um pouco com Ticyana Arnaud, a Consultora de RH e Especialista em Recolocação Profissional que vem espalhando sua voz para promover um RH mais humanizado. – linkedin.com/in/tarnaud . E por acreditar neste novo olhar para quem busca um espaço no mercado de trabalho, com a experiência de duas décadas como gestora de pessoas em RH de empresas privadas, Ticyana pediu demissão no início deste ano com o sonho da sua independência em home office, quando chegou a pandemia.
MJ: Ticyana, como está a sua jornada independente? E o que você pode compartilhar com mulheres e mães, agora com jornada integral.
Ticyana Arnaud: Comecei a empreender em março deste ano, uma semana antes de fechar tudo aqui no Rio de Janeiro. Foi um desafio lidar com a casa cheia, com marido e três filhos em casa. Demorei um tempo para conseguir administrar o caos. Aumentamos a velocidade da internet, organizamos os horários de estudos, tarefas da casa e lazer. Deixo um bilhete na porta quando estou em atendimento, assim ninguém pode entrar, mas algumas vezes eles ignoram, mas dou um desconto.
MJ: Você pode nos ajudar a responder a questão que abre este texto – a mãe com o bebê com febre no dia da entrevista?
Ticyana Arnaud: Entrar em contato com o RH para remarcar e explicar a situação. É possível encontrar um RH acolhedor. É uma situação comum, já aconteceu de uma candidata ficar muito preocupada caso fosse aprovada, pois tinha um exame marcado no SUS há seis meses. Eu tranquilizei e disse que era para ficar despreocupada, que ela não seria eliminada do processo. E foi contratada.
MJ: Neste novo tempo das relações profissionais, com mulheres administrando suas carreiras em home office, como você observa esta relação com o empregador?
Ticyana Arnaud: Compreensão e transparência nas relações. Estas questões passam por jornada de trabalho, que vem gerando grandes debates com a chegada da pandemia. Se antes essa profissional se ausentava da empresa quando o filho ficava doente, hoje esses problemas já não chegam na empresa, pois não existe a falta ou atrasos. A mãe e o filho estão no mesmo ambiente.
Algumas dicas para as mães:
- Ajuste as expectativas e entregas à sua realidade, pois seu trabalho vai render de acordo com a dinâmica da casa. Se o seu filho dorme na parte da tarde, deixe para realizar as atividades mais complexas nesse horário;
- Se precisar finalizar um trabalho, tenha em sua mesa home office alguns materiais para distrair seu filho, como papéis e canetas. Convide seu pequeno para trabalhar com a mamãe;
- Peça ajuda, você não precisa vestir a capa da mulher-maravilha e tentar dar conta de tudo sozinha e tenha por perto pessoas que você pode contar. E por mais difícil que possa parecer, livre-se da culpa.
MJ: Quais conflitos você tem percebido nestas relações de home office?
Ticyana Arnaud: Alguns gestores estão ultrapassando o limite e enviando mensagens em grupos de WhatsApp depois do expediente e nos finais de semana. A demanda de trabalho está sendo cobrada por todos os canais. E isso está gerando uma sobrecarga no profissional.
MJ: Cobrança para a reinvenção passa por todas as camadas e hierarquias profissionais. Qual a sua sugestão para os gestores?
Ticyana Arnaud: É imprescindível que as empresas tenham cautela e respeitem a jornada de trabalho. Ajustar as expectativas.
MJ: Você possui quase 200 mil seguidores no Linkedin e vem se consolidando como uma mentora para profissionais que buscam recolocação no mercado de trabalho. Com a chegada de 2021, a pandemia ainda desafiando a economia e as relações profissionais, uma dica para as mulheres que buscam se firmar e ter reconhecimento no mercado de trabalho – com filhos, família, home office e tudo que ajuda e atrapalha até chegar a almejada conquista de uma carreira de sucesso.
Ticyana Arnaud: Tenha um plano de carreira. Escreva todos os seus objetivos a curto e a médio prazo. Crie metas para alcançar estes objetivos. Exempl
Objetivo: Ser promovida a Gestora da minha área;
Meta: Cursar uma pós graduação em Gestão de Pessoas;
Prazo para conclusão da meta: X meses.
O LinkedIn é uma vitrine, onde todo profissional deve sempre atualizar a rede de netwoking e se posicionar como profissional da sua área. Mesmo se não estiver buscando recolocação é importante estar atento ao que está acontecendo no mercado de trabalho, como os outros profissionais da sua área estão se capacitando e quais as tendências. Além disso, importante manter o perfil sempre atualizado e criar conteúdo para publicar. Estas ações podem favorecer o surgimento de oportunidades incríveis, como convite para entrevista de emprego ou até mesmo oportunidades de negócios.
MJ: Um RH mais humanizado está mais próximo em 2021, em um novo ano que já chega fragilizado com a pandemia?
Ticyana Arnaud: É o que desejo. Profissionais que acolham e tenham mais empatia. Não podemos jamais esquecer que sempre serão pessoas lidando com outras pessoas e sem elas a empresa não obtém resultados. Esse olhar mais atento faz toda a diferença, as empresas estão se adaptando a essa nova modalidade de trabalho, e os profissionais também. A atenção está dividida e é preciso observar como a funcionária está lidando com essa nova rotina. Conversar com cada uma, entender qual a sua realidade faz toda a diferença. Imagina uma mulher que tem um bebê em casa e não tem rede de apoio? A creche está fechada, ela trabalha e cuida do bebê. É exaustivo e certamente a atenção estará dividida.
Para 2021, o tema que está ganhando a pauta dos gestores e líderes é a preocupação com as novas formas de trabalho, que mesmo com todo o aprendizado de 2020, os desafios ainda são muitos, quando falamos na gestão de pessoas em home office. E a gestão remota é a principal questão dos entrevistados da pesquisa “Os principais desafios de liderança para 2021 (https://abrhsp.org.br/conteudo/noticias/gestao-remota-um-dos-principais-desafios-para-2021/), publicada em artigo pela ABRH SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos de São Paulo).
Pensar em relações profissionais mais humanizadas por gestores e líderes também passa por ajustar expectativas, ter mais confiança e mais humanidade com as equipes. Pontos que podem ser um dos legados, do bem, deixados pela pandemia do Covid-19.
Ainda não temos todas as resposta, mas já entendemos que olhar e perceber o outro com mais empatia e gentileza é tão importante quanto o exercício de olhar para nós mesmos. Para isso, podemos usar a sugestão da Ticyana Arnaud, que sempre diz aos seus orientandos: “Seja a história que você gostaria de contar.”