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Sobre Cactos, amor e coisas afins

Este texto é repleto de referências, todas reais, de pessoas, de momentos vividos e vivenciados na vida real. Alguns sofridos, outros festivos, mas todos com amor, muito amor, por todos os lados que me envolvem. E poderia começar falando de despedidas, mas vou buscar o encontro, como aquele que vivi com Samuel, amigo atento, que partiu na semana passada e me deixou doída, seja pela ausência do bom pai de Carol e Fernanda, do conselheiro do prédio para os “jovens” e carinhos para a Gata-Maria, um bom tio e o pai que a vida deu ao meu filho Diego, e para o outro genro, o Alemão. Bons argumentos para sentir saudades.
Mas posso dizer que ao me despedir do amigo em São Paulo ganhei um lindo encontro em Amparo, onde vivem Paulo, Selma e Renata, em sítio no interior, onde Selma, a cunhada de Samuel, mulher de Paulo, mãe de Renata e tia de Carol e Fernanda, já dizia há tempos para mim: venha aqui nos visitar, você vai gostar. E amei. E ganhei pedras e cactos, e fui acolhida, e queria ficar pelo mato e queria dar mais e mais beijos em José Carlos, o vira-lata Zeca.
Mas mesmo quando tudo é amor, nem sempre fica fácil deixar para traz tantas despedidas, partidas que vamos transformando em saudade boa. E foi transformando dor em saudade que voltei ao Espírito Santo, em julho último, com a Tia como companhia – e garantia – para reencontrar os meus após 38 anos da última Páscoa com eles e papai, em 1978 (meu pai faleceu em novembro do mesmo ano).
E não foi somente reencontrar os primos Maria, Valter, Ana e Wolgo – e os seus e também meus – no estado que me da nome, mas reconhecer rapidamente em todos eles quem sou. Conversar e comer, e conversar e rir, e chorar juntos, como a família que éramos, com o que ficou nos nossos traços, com o que nos fez ser da terra, de contar causos enquanto tomamos pinga (eu e Valter, imbatíveis) ou café. As vezes é desta forma que vamos reconhecer quem somos de verdade, como reconheci em Paulo, Selma e Renata parte de Carol, de Fernanda, de Samuel.
Trouxe de Amparo, assim como do Espírito Santo, uma cachaça, plantas e pedras, uma bagagem repleta de emoções, família e vida de verdade, com gente de verdade. Hoje, ao colocar as mudas em suas novas moradas, pensei nos encontros que podemos nos permitir, no quanto precisamos tentar a renovação e a transformação dos sentimentos. E ao olhar para aqueles vasinhos na minha janela senti gratidão por todas essas pessoas queridas e por todos os encontros de amor que ainda vamos ter.

Foto: Silvana Cardoso

Para ser amanhã

… acordei aniversário para mudar de data de ciclo no relógio da espera longa de longos dias como antes de ontem de ontem também de hoje da melancolia como data para ser amanhã depois de amanhã mais outro amanhã como presente do presente em tempos de saudades quando a saudade é amor que fica quando por estes tempos de longas horas de saudades diversas de amores diversos de distâncias em dia de aniversário para consolar que vai passar esse dia presente divino de desejo para ser amanhã que já é amanhã. Gratidão.

 

RJ, 2 de agosto, 2017
Foto: Silvana Cardoso | Búzios, RJ, 2013

Aquela Criança | Silêncio da Saudade | Amor

Aquela criança

Quando ele dorme, amanhece
Sua respiração
O homem se desfez naquela criança
Que dorme
Aquela que ainda luta
Com o sono que desfaz a brincadeira
Do sonho daquela criança

Silêncio da saudade

O silêncio é só saudade
Dessa vontade adormecida
Que passeia em desarmonia
Onde voa o pensamento
Onde é saudade
Daquele velho e teimoso amor

 

setembro, 2016
Foto: Silvana Cardoso | Búzios, Lagoa dos Ossos