“Ainda não sabemos como vamos voltar, se teremos combustível, mas estamos adorando estar aqui mesmo assim”, ouvi a moça falar para a amiga no gramado repleto do Palco Santa Rita – com famílias com suas crianças, jovens, casais e amigos de todas as idades, cachorros. É a programação que acontece durante a tarde, no palco que fica à frente da Igreja de Santa Rita, na décima edição do Bourbon Festival Paraty, que acontece no meio desse caos no Brasil. Nem tudo foi só alegrias e a tensão invadiu com a possibilidade de não ter equipamentos de som para a montagem, mas tudo foi se resolvendo, a turma ficou de vigília, a estrutura de camarim ficou meio de improviso, mas em cada ruela, em cada muro que se transforma em fundo de palco aconchegante, lá está ela: a música.
Enquanto o Brasil está lutando por dias melhores, nós estamos aqui fazendo cultura pelo país, em Paraty, assim como em outros festivais que estão acontecendo neste momento, como em Curitiba, como o BB Seguros de Blues e Jazz.
Parece que estamos numa bolha, mas não, apenas estamos fazendo a nossa parte para que algo bom não seja diminuído diante da urgência da causa dos caminhoneiros, da causa de dias melhores para todos nós. Estamos fazendo festivas e música por todos eles e por todos nós também, já que a cultura é a identidade de um povo e não pode ser calada.
Hoje, mesmo com as atenções nos noticiários, tivemos uma tarde de celebração e paz e já já o Palco Matriz (montado na praça da Igreja da Matriz) recebe o show do nosso querido Cesar Camargo Mariano com a jovem Madison McFerrin. A noite fecha com a belezura da revelação Blackalbino, que nos brinda com Tony Tornado, o aniversariante da noite, que comemora no palco os seus bem vividos 88 anos.
Como tudo neste país, da muito trabalho, tem que ter muita paciência, mas quando olhamos em volta é um prazer ter a coragem de não desistir e ver que a música está por toda parte, por dentro de todos nós.
Foto Pedro Guida
Rio de Janeiro, 26 de maio de 2018.