O que queremos fazer nem sempre é compatível com o que devemos fazer, assim como o que, de verdade, podemos fazer. Por vezes acreditamos que ao estarmos mais velhos, adultos, e experientes, saberemos o nosso tamanho. Mas nem sempre é assim e por vezes vamos nos deparar com uma quantidade de areia maior que a caçamba do nosso caminhão.
Quando era muito, muito jovem, de repente, descobri que não tinha mais certezas, mas sim, deveria fazer o que era para ser feito. Creio que a partir deste momento nunca me dei limites nesse ideal de fazer tudo dar certo, inclusive para o outo. Hoje, mais que nas 24 horas de ontem, pelo menos, ainda busco perceber o meu limite em dar conta de tudo à minha volta.
Talvez pela força do DNA ou pela coragem de viver o que é para ser vivido, as vezes meu caminhãozinho não dá conta de tanta areia para carregar. Escolhas, sempre as nossas escolhas. Até mesmo para ter coragem e dizer: não estou dando conta, queridos. E isso tem a ver com o que podemos fazer, com o que está ao nosso alcance sem se prejudicar, já que nem sempre temos consciência de que só poderemos ajudar o outro se estivermos bem.
Pode ser a pessoa que você mais ama na vida, mas ela vai estar no mundo que ela criou para si e você não vai salva-la das próprias escolhas, seja para a vitória ou para a derrota, para o bem ou para o mal. Aliás, todas as vezes que a vida bateu pesado na minha porta fui lembrada que ali estavam as minhas escolhas.
Penso que podemos usar como exemplo a instrução de segurança quando entramos num voo, quando diz: “Em caso de despressurização da cabine, máscaras cairão à sua frente. Coloque primeiro a sua e só então auxilie quem estiver ao seu lado”. E você não vai salvar o outro sem antes se salvar. Assim é e assim será o caminho que podemos trilhar para realizações ou frustrações, a partir das nossas decisões.
Como nunca é tarde para ficar esperto diante da Dona Vida, e como é sábio aprender com o caminho percorrido, ainda busco fazer doer menos em mim as dores dos que amo, ou as dores da desumanidade do mundo mas, pelo menos, estou descobrindo dar conta da quantidade de areia que consigo carregar.
Foto: Miriam Juvino, Tiradentes, MG, maio, 2014