Quero te dar o consolo dos dias perdidos, as minhas dúvidas, apagar os equívocos e deixar o tempo passar com as descobertas que não sabemos saber. Quero encontrar as perguntas esquecidas desde então, procurar espaços vazios para preencher com colorido suave, descobrir água doce no sal que pinga da sua testa enquanto me ama loucamente. Dormir. Quero atravessar a rua de mãos dadas e sentir que você me puxa devagar, estremecer em soluços no seu peito, acordar sem pressa para ir, encontrar a paz no silêncio que agora passeia sem medo e deixar quieto os seus segredos. Quero amanhecer com o vestido pendurado no cabide, apenas os sapatos no tapete, sua camiseta branca para dormir por puro vício do cheiro do seu vento, secar o seu corpo no meu como sempre, contar as gotas e beber na sua sede, na ânsia do nosso prazer. Te beijar na calmaria do domingo, encontrar a vida breve que passa por entre a brisa de folhas que caem. Perceber o tempo sem contar as horas que faltam e acalentar desejos para o dia seguinte. Vagar sem rumo a procura do sol. Seguir as pistas deixadas sutilmente nos arredores da casa cheia de nós. Olhar pela janela, juntos e com sono, meio sorriso nos lábios para começar tudo outra vez. Quero descobrir você novamente, em tempos de não promessas, em momentos de não distâncias. Te abraçar longamente. Quero saber a sua cor favorita, seu livro de cabeceira, a música que toca, as imagens das paredes, o prato do dia, o sonho acalentado ao acordar, os segredos que podem ser contados, as mentiras que quero ouvir. Quero passar pela luz do outono no por do sol alaranjado, embaixo das cobertas pelo frio do inverso, viajar na primavera, encontrar o verão pedalando por aí, esperar o outono outra vez. Quero te amar de mansinho, encontrar o teu corpo pertinho, sono encaixado em laços de braços, beijo molhado de amanhecer, para dormir mais um pouquinho, enquanto não precisamos ser.
Rio de Janeiro, 9 de maio, 2009
Foto: Silvana Cardoso