Ah, se todos os dias fossem domingo, quem sabe eu poderia acordar sem culpa, sem pressa, com muita preguiça, cheia de confiança em mim, como costumo acordar aos domingos. Poderia ser um dia comum como todos, o domingo. Mas poderia segunda, terça ou quarta ser este dia, um lindo domingo? Seria para eu ligar para os amigos e jogar conversa fora, para ouvir histórias de viagem, para fazer uma comida gostosa, para brincar de modelo na foto, querer estar com uma amiga, trocar confidências ou escrever coisas bobas e soltas pro ai. Sendo domingo, é fato que andaria de bicicleta, olharia a Urca mais uma vez e, no frio da chuva fina, estraria embaixo das cobertas para ler Galeano, ou Haruki, ou mesmo reler as “Consolações da filosofia”. Ah, se todos os dias fossem domingo eu entraria no Instagram para brincar de olhar quem me olha, e descobriria, em Um, uma trilha. E a imagem com sinfonia melancólica de Morricone, a imagem com trilha de tristeza e olhar de saudade, me conta uma linda história de amor, aquela que passou. Uma imagem, uma música. Sem querer ouvir as perguntas ou as resposta que habitam as minhas dúvidas, melhor que ainda seja domingo – que me faça viajar nas imagens, nas histórias, nas saudades, nos acordes que me consolarão enquanto não é segunda.
Rio, setembro, 2016
Foto: Silvana Cardoso | Posto 2, RJ, 2016